Monday, May 7, 2007

Dias 1, 2 e 3 - Wild Wild Bangkok

Dia 1
Sair do avião e um bafo monumental!!!! À saída do aeroporto fomos agressivamente abordados por uma avalanche de taxistas e "chaufers" cada um com o seu preço:
-Taxi city center 600 Bat
-Limousine?? Very very cheap!!!!!
-Taxi city center 500 Bat.
- TUC TUC? Special Price

Ainda no aeroporto entrámos num café para fugir às pressões!!! E consultar o guia.
Descobrimos no guia “Lonely Planet” que o mais seguro era o “Taxi meter” com um custo de mais ou menos 300 Bat. (7,5 Euros) e lá fomos.
-Highay? - Perguntou o taxista, ao que acedemos.
-Toll 30Bat - disse ele.
-Oh yes?
-Toll 30Bat!!!
-OK
-Toll 30Bat!!!!!!!!
-Yes yes.
E andámos nisto até que um de nós se lembrou que provavelmente o taxista queria que fossemos nós a pagar a portagem no acto e... BINGO. Na portagem seguinte deviam ver o ar de felicidade dele quando disse: - Toll 40Bat - e recebeu logo as notas da minha mão.

Regra n1: Não confiar nos taxistas:
"- Hotel two block!!! Leave here!!! One way, I go no more!!!"
E saímos. 14:00h, um sol de matar e uma humidade impossível. Não seria mau se “Two Block” não tivesse implicado andar quatro quarteirões e não dois, 3km e 45 minutos de mochilas às costas a destilar. Até suor a escorrer pelas lentes dos óculos eu já tinha!
Finalmente o hotel!!!!! O melhor para a gama de preços, 800Bat o quarto triplo, de acordo com o Guia do American Express.

Regra n2: Não confiar nos guias, não decidir o hotel apenas no aeroporto de chegada ou então saber primeiro o que implica essa gama de preços, não vá ser um hotel de "permanências curtas" com meninas de má reputação à disposição no Lobby.
O corredor era horrível, o quarto ligeiramente menos assustador e a casa de banho inacreditável. A luz do quarto era daquelas de néon sempre a tremer e a fazer um barulho constante de curto circuito. Enfim, não tinha visto pior que isto ainda. Mas com o cansaço com que estávamos lá ficámos. Depois desta caminhada não estávamos com coragem de carregar a mochila debaixo daquele sol em busca de outro hotel incerto.
Tomar banho numa casa de banho de fugir, e sair para a rua para o primeiro contacto turístico com a cidade, sem saber se as nossas coisas estariam lá quando voltássemos.

Tudo se cozinha na rua, até larvas.
Regra n3: Nunca comer nada na rua.

Regra n4: Nos mercados de rua nunca negociar nada até acordar um preço e depois não levar. Acabam com uns Tailandeses furiosos, em crescente número atrás de nós, a dedicar-nos promessas ameaçadoras, agarrados ao telemóvel, calculámos que a chamar outros. Já em acto de desespero entrámos num centro comercial, saímos a correr pelas traseiras e lá os despistamos.

Chegámos ao nosso destino, o mercado nocturno de Pat Pong. São duas ruas paralelas Pat Pong I e Pat Pong II. São um misto de Feira de carcavelos em que tudo se vende e feira popular em que as diversões são substituidas por bordeis
Continuando em Pat Pong II (as meninas que me desculpem mas vale a pena) Na rua éramos continuamente abordados por tipos com fotografias a dizer -Pussy? Super pussy? Ping Pong Pussy?-ao que a resposta chave e mais eficiente era: -No No, No Money!!!
Até que nos agarraram e disseram: -Come in!! Come in!! Just for drink and pay only drinks!!- ao que acedemos! Ao entrar percebemos que o bar ainda estava vazio e que éramos os primeiros clientes a entrar no bar nesse dia. Em acto contínuo levantaram-se umas 20 meninas de bikini branco, a avançarem sofregamente na nossa direcção e a olharem-nos com um misto de petisco e de sustento. OK, hora de fugir!! Dar meia volta rápida a dizer “Dinner first!! dinner first!!” e saímos porta fora à procura de um restaurante.

Regra n5: Nem para comer confiem nos guias

Após o jantar e num acto de bravura lá voltámos ao GO GO bar “Cleópatra”. Agora já cheio de clientes e como tal menos ameaçador. O show era surreal e de vez em quando tínhamos que chamar a chefe delas para as pôr a uma distância segura ou seja não mais que ao nosso lado e com as mãos sem ser em cima de nós. Algumas delas, quando estão sozinhas, sem estarem a tentar angariar algum cliente, deixam transparecer um olhar profundamente triste. Lembro-me de pensar qual seria o peso da vida ou da história triste de dificuldades por trás de cada um daqueles olhares.
Lá bebemos as cervejas e saímos. À saída pedi para falar com o gerente, dizendo que era repórter de uma revista turística e consegui convencê-lo a que ia fazer uma reportagem fotográfica em que ia fazer propaganda ao estabelecimento dele em Portugal. Provavelmente na volta a Bangkok vou fotografar um show típico de Pat Pong. Quem diria!!! Como resultado já temos bebidas a borla (just jocking).

Seguimos para Pat Pong I
Compras, compras e mais compras. Todo o tipo de roupa, adereços, relógios, material de som, etc. Um grande achado foi uma loja de imitações de quadros famosos pintados a óleo, imitações perfeitas de Andy Warholl, Lichtenstein e outros, baratíssimos.
Enfim, tudo o que imaginarem Pat Pong tem.
Já mortos de cansaço voltámos ao nosso belo hotel de TUC TUC. Por alguma razão estranha uma personagem muito importante nesta terra é a Mona Lisa. Todos os taxistas ou condutores de TUC TUC nos perguntam se estamos interessados em conhecê-la!! Very cheap, very cheap.

Um Tuc Tuc, para quem não sabe, é um substituto moderno do Riquexó, é uma pequena mota, triciclo, com lugar para três passageiros no máximo e que faz serviços de táxi, bem mais barato que os táxis propriamente ditos. É conveniente dizer o destino e acordar o preço antes de entrar no Tuc Tuc, para reduzir os riscos de se ser roubado. De um modo geral o preço pode descer até 50% do pedido inicialmente por eles.

Dia 2
-7:00h da manhã, sair para a rua e já um calor abrasador!!
-Pequeno almoço no McDonalds, ao que nós chegámos!!!!
A verdade é que a comida de rua não é muito convidativa e não existem cafés como nós o entendemos o que nos deixou uma alternativa segura, MacDonald's!!!
Íamos a passear a pé na rua quando se ouviu uma música pela cidade toda. Para nossa surpresa o frenesim deste formigueiro citadino estancou de repente, como se alguém tivesse carregado no botão do “Pause”. Era o hino nacional. E todos ficaram imóveis até o hino terminar, onde a azáfama recomeçou tão automaticamente como tinha estancado.
Batemos a pé todos os pontos notáveis da nossa zona. Raios partam o tamanho destes quarteirões!!!
Por todo o lado se vêem vendedore ambulantes a vender de tudo desde comida a todo o tipo de artigos não comestíveis.
Iniciei a minha reportagem fotográfica. Foi uma manhã turística com os pés doridos.
A parte mais agradável foi sem dúvida o passeio pelo jardim da cidade onde eram frequentes os grupos a praticar Tai Chi. Têm uma mecânica engraçada porque vão passando pessoas variadas, que param, juntam-se ao grupo na prática do Tai Chi e passado algum tempo seguem caminho como se nada fosse.
As actividades de famílias e grupos de idosos, é muito frequente nestes agradáveis jardins, cheios de lagos e recantos, com os arranha céus como pano de fundo


Após longas voltas nas poluídas e confusas ruas de Bangkok onde o esparguete de viadutos é uma constante, voltámos ao nosso hotel (para não dizer bordel) para fazer o checkout às 12:00h.
Decidimos mudar para o centro da cidade, agora para o “Royal Hotel” na esperança de algum sabor a civilização. De acordo com descrições o “Royal Hotel” é um hotel típico colonial!!
A mudança de hotel foi hilariante. Três marmanjos num TucTuc apinhado com as nossas mochilas e sacos entaladas entre nós, por cima de nós e por baixo dos nossos pés, enfim onde coubessem no diminuto espaço permitido pelo Tuc Tuc. Tive pena de não termos sido fotografados “para mais tarde recordar”.
-Chegada ao hotel
Agora sim, este já dá ares de hotel, 1700 Bat o que dá aproximadamente 15€ por pessoa. Um hotel típico colonial, com amplos espaços e colunatas, tão revivalista que tudo nele remontava à época colonial, até o cheiro a velho e bafio deveria remontar a essa época.
O senão é o preço!!! O triplo da nossa “casa de meninas”.
O resto do dia foi muito turístico, cansativo e sem grande emoção. Andámos a ver templos ou como aqui se designam Wat's e alguns outros pontos de atracção da cidade, por vezes debaixo de uma chuva diluviana.
É preciso ter cuidado com alguns Tuctucs que nos levam por tuta e meia a qualquer ponto da cidade mas que em contrapartida temos que parar em lojas nas quais eles recebem comissão por cada turista que lá entra, tipicamente de alfaiates e de pedras preciosas.

Saí agora dum alfaiate, onde mandei fazer um Blazer e umas calças e parei agora na Net para enviar estas notícias. Estou atrasadíssimo para ir jantar com eles e ainda tenho mais de meia hora de TUCTUC até lá chegar. Amanhã tenho uma viagem de comboio de 9 horas e deixo Bangkok com direcção a Sul, como tal não sei quando consigo aceder ao mail outra vez.

Dia 3
Destino: Rumo a Sul.
Modo: Comboio
Onze horas de viagem, em 3a Classe. Assentos muito pouco confortáveis e apinhado de passageiros.
Ao sair de Bangkok, a linha de comboio passa junto a bairros de lata e aí sim apercebemo-nos da verdadeira pobreza, que dá origem à prostituição, que faz Bangkok tão famosa no mundo.
Contrariamente ao que nós julgamos, as prostitutas na Tailândia são na sua maioria muito respeitadas pelas suas famílias, são pessoas que sacrificam alguns anos da sua vida para garantir o sustento da sua família, pais, irmãos, avós, etc. Ao fim de algum tempo "reformam-se", casam e têm filhos.

Ao longo da viagem o comboio vai parando em sucessivas e frequentes estações e apeadeiros onde entram hordas de vendedores com doses individuais de comida em saquinhos de plástico transparente.
Por exemplo um saquinho de arroz e outro de caril para misturar dentro de um dos sacos e comer daí. O sistema é muito prático. No sistema de saquinhos de plástico vende-se também sumos e gelados. Não há dúvida que a necessidade faz o engenho!!


A meio da viagem fizemos uma paragem num mosteiro Budista em Nakhon Pathon.

Era necessário andar com um respeitoso silêncio porque mesmo ao nosso lado estavam a ser dadas aulas aos monges. Foi interessante a disponibilidade dos monges budistas para discutir temas existenciais. Foi o meu primeiro contacto real com o Budismo, após ter lido já muitos livros.
O meu entusiasmo na conversa ia fazendo com que perdêssemos o comboio. Quando fui ter com os meus amigos já passava da hora do comboio que deveríamos ter apanhado. Eles estavam furiosos e com razão! Mas felizmente que aqui os comboios também atrasam, e muito, e contra todas as expectativas ainda apanhámos o nosso comboio, continuando a nossa viagem como previsto.

1ª Alteração aos nossos planos de viagem:
Como resultado de uma conversa com outros backpackers, nesta viagem de comboio, decidimos cortar a viagem de comboio a meio e sair na estação de Chumphom às 23:30. O comboio passava nessa estação mesmo a tempo de apanhar o único Ferry diário que parte de Chumpom às 24:00h para Ko-Tao. A intenção depois era seguir viagem para Sul através das ilhas.
Saídos do comboio, quase no meio do nada, lá encontramos um "pseudo" taxi que após negociação muito regateada nos levou ao porto onde estaria o Ferry, o tal em que nós esperávamos dormir confortavelmente numa cama de um camarote. Ha!! ha!! anedota total!! O cenário começou a ficar negro quando, a chegar ao dito porto o caminho era em terra batida, cheio de buracos, e os únicos barcos que víamos foram dois barcos de madeira meio submersos.
Quando chegámos ao nosso suposto Ferry, ficámos deveras preocupados, era afinal uma chata de madeira, com uma pequena e única cabine fechada, que era a do piloto, sobrelotada com Tailandeses e alguns estrangeiros, todos a dormir pelo chão sem um único espaço para nos esticarmos. A única protecção era uma coberta em madeira, mas completamente aberto dos lados.
Dormitámos sentados durante as 6 horas da viagem que foi o tempo que aquela casca fez em mar alto, trocando histórias de viagem e tragos de Whiskey, com outros backpackers para nos dar coragem para seguir viagem naquelas condições arriscadas. E lá fomos...

Dias 4, 5, 6 e 7 - Ko-Tao - Um paraíso de mergulho

Dias 4, 5 e 6

Com o amanhecer do dia começaram a vislumbrar-se finalmente os contornos da ilha, Ko-Tao (agora já podíamos naufragar que pelo menos já sabíamos para onde nadar).
As pessoas que dormiam no chão começaram finalmente a levantar-se o que me libertou algum espaço para poder esticar as pernas.
Ao fim de quase uma hora, após termos avistado a ilha, chegámos! O barco ficou a meio da baía tendo nós desembarcado em pequenos botes a motor. Desembarcados no pontão, fomos de imediato assaltados por hordas de tailandeses com ofertas de dormida e cursos de mergulho. O conselho de uns Ingleses foi essencial para a escolha da praia para onde seguir e onde procurar estadia.
Saltámos para uma pickup e numa volta de 10 minutos chegámos à praia de Chalok Ban Kao, estava deserta, como seria de esperar às 6:30 da manhã.

Uma praia simpática com coqueiros até à água e barzinhos em madeira espalhados ao longo da areia.
Fiquei a guardar as mochilas enquanto os Nunos foram explorar a praia para escolher onde iríamos ficar. Resorts é um nome pomposo demais para os conjuntos de cabanas que se viam daqui.
Num dos resorts, o “Scuba Shack”, davam cursos de mergulho, resolvemos ficar aí a fazer o “Open Water Diver”, quatro dias com dormida incluída e o preço metade do que se pagaria pelo mesmo curso cá em Portugal. O curso certificado pelo PADI, "Put Another Dollar In", como aqui é gozado.
-Escolher as nossas cabanas;
-Largar malas;
-Pequeno almoço de panquecas e batido;
-E o curso começou de imediato, explicações, lições de vídeo;
-Almoçar Thai, finalmente sem medo de desarranjos intestinais;
-Saída para o mar.
O "spot" de mergulho era o “Japanese Garden”. Parámos num local a seis metros onde fizemos os supostos exercícios, tirar e pôr máscara, tirar e pôr garrafas, etc etc. Após o sinal de estar tudo OK seguimos o instrutor. O local era fantástico, recifes de coral em formato de colunas, nascendo a 13 m de profundidade, subindo até quase à superfície, formando um labirinto recheado de cores e peixes. Para primeiro mergulho não podia ter sido melhor.
As primeiras regras a aprender aqui é não tocar em nada, no coral porque corta e nos peixes porque não só os tubarões são perigosos. Um dos melhores momentos foi quando estivemos no meio de um cardume enorme de Barracudas (e julgava eu que eram perigosas).
Os nossos professores eram um Dinamarquês e um Filipino. O Filipino, o Chris, ou Crazy Philipin como nós o chamávamos era uma figuraça, parecia um pirata, pequenino, cabelo rapado, orelhas furadas com argolas de alto abaixo, e anéis, argolas de prata quer nos dedos da mão quer dos pés e uma pulseira de turquesas. Era também professor de Yoga e artista, com uma loja de artesanato.
Os dias eram passados a estudar, mergulhar e a fazer exames quer escritos quer de mergulho, o que nos obrigou a ter uma vida saudável, deitar cedo e cedo erguer, sem bebidas e pouco fumo.
A comida no nosso Scuba Shack era fabulosa. Fartámo-nos de comer Thai food finalmente sem quaisquer receios de ficar de esguicho.
No segundo dia os mergulhos em si não tiveram nada de assinalável. Apenas a viagem de barco de regresso é que foi emocionante, com a tempestade que apanhámos e consequentes ondas enquanto o nosso barco dava a volta à ilha. A verdade é que o piloto tinha avisado para estarmos no barco antes das cinco. Ninguém lhe ligou e foi este o resultado. Ondas sucessivas algumas maiores que o barco. O barco era um barco tradicional de pesca, com uma cabine fechada para o piloto, convertido para mergulho. O piloto ia com destreza passando estas ondas. O medo era grande até ver que nem os tailandeses da tripulação, nem os instrutores se preocupavam muito. De tal forma que mantivemos uma conversa variada enquanto íamos sendo varridos pelas ondas no convés do barco. Só tínhamos que nos segurar bem. E todos chegámos ao porto sãos e salvos.
No último dia de mergulho, descemos finalmente aos 20 metros e fazer navegação à bússola. Devido à tempestade do dia anterior a visibilidade era tão má que o exercício não poderia ter sido mais realista.
-Exame final e fim do curso,
-Certificados
-Jantar de comemoração e despedida, com os instrutores e restantes membros da classe, comida europeia, má e cara. Na Tailândia sê tailandês.
Nessa noite houve uma festa da “pastilha” numa casa enorme, de um dos barões locais, no pico da ilha,

Dia 7
O nosso último dia em Ko-Tao foi um dia de descanso, praia relax e snorkling.
Fomos nadar para uma praia em que os nossos professores nos disseram que tínhamos 100% de chances de ver tubarões “Black tip reef sharks”. Têm cerca de 2 metros, são carnívoros mas não atacam pessoas, pelo menos foi o que nos disseram e nós acreditámos.
A possibilidade de avistar tubarões é maior no snorkling uma vez que estes têm medo e se afastam das bolhas de ar libertadas no mergulho.
O local era uma baia grande. Nadámos até cerca de 150 metros da praia com 10 a 15 m de profundidade. Só depois de lá chegarmos é que realizámos que estávamos bem afastados da praia em plena “Shark area”, mas não apareceu nenhum!!! Por um lado foi um descanso porque não sei qual seria a nossa reacção se algum tubarão aparecesse ao pé de nós, por outro lado foi uma desilusão, seria sempre emocionante ver um tubarão ao pé.
Fizemos o resto da tarde na praia, de papo para o ar, a apreciar as cores fantásticas do pôr do sol.
-Banho
-Jantar e para terminar umas cervejas num barzinho na ponta da baía com um ambiente muito cool e relaxed, com a música da “ganza” como nós lhe chamávamos. Todos estes barzinhos têm uma mesas rasteiras e umas almofadas tailandesas tipo esteira com um apoio triangular num dos lados para a pessoa se recostar meio deitado meio sentado.
Foi a nossa despedida de Ko-Tao

Dia 8 - Ko-Phan-Gnan - A loucura da "Full Moon Party"

-Tomar o nosso último pequeno almoço fantástico no “Scuba Shack”
-Boleia de “pickup” para a cidadezinha
-Apanhar barco para Ko-Phan-Gnan.

O “deck”, ao sol, estava cheio de Back Packers a dormitar ou a escrever postais. Foi cerca de uma hora de viagem.
Desembarcar e evitar a avalanche de solicitações para os vários “resorts”. Com base nas informações de outros Backpackers seguimos para Hat Rin Nok, a praia da “Full Moon Party”. No caminho até lá verificámos que esta ilha tem muito pouca vida, eram 16:00h e não se via quase ninguém nas pequenas ruas e praias. Hat Rin Nok é uma praia rodeada de bares, bungalows e pessoal da pastilha. A maioria de bungalows nesta zona são decadentes. Após uma volta curta lá escolhemos um bungalow em betão e cheio de vidrados pirosíssimos, mas era limpo, parecia seguro e estava suficientemente afastado da praia para haver menor risco de assalto.
Após largadas as mochilas no quarto, saímos para fazer um melhor reconhecimento da ilha. Ruas degradadas serpenteando por entre construção anárquica, que vai desde construções baixas em betão a perfeitas barracas de madeira, alugadas pelos backpackers de pé descalço.
Fomos explorar a costa sudoeste com uma praia extensa, cheia de coqueiros até à água, fortemente batida pelo vento escaldante e cheia de detritos trazidos pela corrente, claramente uma praia menos nobre desta ilha, com um ar de abandono, corroborado pelas barracas degradadas que serviam de quarto para os menos afortunados.
Como viemos a descobrir o que conta nesta ilha é a noite e a pastilha, tudo o resto é secundário e tem que ser barato.
Numa volta às praias e bungalows próximos é possível ver que há quem pague quase nada, cerca de 100 Bat, 2,5 Euros por noite em barracas nojentas em formato de bungalows decadentes e degradantes. Dentro dos backpackers tb há grandes diferenças que acabam por se reflectir na escolha da ilha, da praia e dos bangalows em que ficam.
A roupa aqui é exactamente igual para todos. Todos se restringem ao mais prático e simples.
Após o impacto da primeira impressão, quando se chega a um local novo, o importante é integrar o espírito do local. O hotel ou o local de pernoita são pormenores pouco importantes, que não condicionam a diversão ou o bem estar que se pode conseguir neste tipo de viagens.
Após a sensação de estar num local decadente e perdido conseguimos descobrir um restaurante com um óptimo ambiente, um telheiro com mesinhas rasteiras, almofadas tailandesas, um ambiente acolhedor. A comida óptima e barata. Durante a conversa animada demos cabo de uma garrafa de rum, um aperitivo adequado para a Rave “Full Moon Party” para onde fomos a seguir.
Toda a praia à noite, durante a Full Moon Party, enche-se com 15.000 pessoas, a dançar freneticamente quase em transe, a um ritmo alucinante. Os malabaristas de fogo são uma presença em toda a praia. A fama desta festa é tal, que de toda a Indochina e Austrália vêm pessoas, propositadamente nos dias de Lua Cheia, para a "Full Moon Party".
A festa acaba apenas com o nascer do Sol

-Festa
-Voltar e ir à praia apanhar Vento na Cara para curar a bebedeira
-Dormir

Dia 9 - Viagem de Ko-Phan-Gnan, Ko-Samui, Surat Thani e Kao Sok

Dia 9

Apesar da vontade de ficar aqui mais uns dias, decidimos seguir caminho. Acabou-se a praia!! Seguimos para o porto para apanhar o barco para Ko-Samui. Mais duas horas de mar num Deck cheio de Back Packers. Chegamos a Ko Samui no lado oposto. Teríamos que atravessar a ilha toda para apanhar o barco para o continente.
Os táxis são uma máfia. Se a procura é maior que a oferta fazem o preço que querem, sem negociar. O Nuno C. conseguiu falar com um habitante local, que nos levava por 200 Bat ao outro lado da Ilha, onde iríamos apanhar o “Ferry” para o continente. Saltámos para a traseira da “Pickup” e lá atravessamos Ko-Samui.

Já muito mais desenvolvido que qualquer das outras ilhas anteriores, casas dispersas ao longo da estrada sem algo que possa sequer ser chamado de aldeia ou aldeola.
Chegados ao cais saltámos da “pickup” e compramos o bilhete do que finalmente se pode chamar um “ferry”, podre e velho mas sim era um ferry, incluía o bilhete de autocarro local para Surat Thani. Quando chegou o barco que nós íamos apanhar desceram centenas de backpackers, prontos a invadir as ilhas que nós tínhamos acabado de deixar. Não há dúvida que esta zona é um paraíso para quem opta por este tipo de viagem.
Estão todos feitos uns com os outros, o picas fez-nos sair junto a uma agência turística manhosa, perdendo nós o autocarro de ligação para o parque. Resultado tivemos que tomar os serviços da agência e esperar 3horas pelo mini bus deles. Saí à procura de uma loja de Internet e saber notícias de Portugal. Chegado o mini bus foram 2,5 horas até à selva (descrever dos guias). Era tudo mais do que básico. O “bungalow” era mais uma cabana elevada toda aberta. As paredes não juntavam com o telhado e barulho da selva tudo à nossa volta. Finalmente o mosquiteiro teve uso depois de uma série de dias a carregá-lo não sei para quê. A zona comum era apenas um telheiro com algumas mesas e cadeiras onde nos juntávamos para comer. A humidade era tal que apesar do calor a roupa demorava a secar. Eis-nos no “Freedom Resort”. O dono era um australiano pitoresco, gago e talvez bêbado. Ao planear o dia seguinte resolvemos separar-nos, eles seguiriam para Sul, Hatiai e eu seguirei com um guia (o Leck) fazer um tracking pela selva durante dois dias. Planeámos encontrar-nos outra vez em Surat Thani. Caía uma chuva copiosa com algumas interrupções ocasionais. O tipo da reserva era um australiano meio peculiar. Nada estava organizado para nós (toalhas cama extra etc. A humidade era um exagero, tudo ficava molhado assim que se abria a mala. Estamos constantemente com chuva, meia hora sim meia hora não. A electricidade era dada por um gerador que volta e meia parava. Após alguma conversa fomos dormir debaixo de chuva cerrada.

Dias 10, 11 e 12 - Khao Sok National Park

Dia 10
Como tem sido uma constante, os planos aqui nunca são respeitados. Há sempre alguém que se conhece no caminho que nos diz valer a pena fazer isto ou ir por ali.
Decidi não ir para sul com eles! Fui antes 100km para leste. Resolvi fazer dois dias de Selva no Parque Nacional de Khao Sok. Arranjei um guia por dois dias enquanto eles rumaram a sul, Malásia, o porto franco de Langkawi, para fazer compras (Maquinas fotográficas digitais).

-Acordar
-Pequeno almoço
-Preparar mochilas, uma muda de roupa e máquinas fotográficas
-Despedidas (eles foram fazer uma pequena incursão pela selva antes de seguirem para sul).
Segui de carro durante uma hora até chegar à entrada do Parque Nacional de Khao Sok onde para entrar é necessário assinar um registo de entrada com nome dia e hora e nº de passaporte, e data prevista de saída. Provavelmente para controlarem quem possa ficar perdido lá no meio
Após ter assinado saltei para dentro de um barquito a motor com o guia e mais um casal de miúdos ingleses e seguimos durante quase uma hora por entre ilhas altíssimas com escarpas em rocha e vegetação no topo, ao fim da qual chegamos a um pequeno hotel flutuante. Este pseudo hotel consiste num conjunto de cabanas flutuantes em que a única coisa que tinham dentro era um colchão e um mosquiteiro.
Estas cabanas flutuavam sobre 40m de profundidade de água e só 5 cm acima dela. Levei a noite toda a sonhar com afogamentos e que a minha cabana estava a ser invadida por sangue sugas saídas da água (mal sabia eu o que ainda me esperava). Não foi das minhas melhores noites!!!!
Peguei nas máquinas e num caiaque que lá havia e fui dar um passeio de 2 horas pelos canais entre as ilhas do lago.

A vegetação é luxuriante e a profundidade do lago é superior a 50m. Apesar de se verem alguns animais selvagens, macacos, águias, guarda rios etc. a principal atracção é mesmo a beleza natural do lago das ilhas e da vegetação luxuriante. O safari nocturno como pomposamente lhe chamam, é mais um passeio em que com um holofote se tentam vislumbrar alguns animais dos quais o melhor que se consegue é pouco mais que uma silhueta e o reflexo dos olhos. O mais impressionante é andar naqueles meandros com as imponentes silhuetas daquelas ilhas escarpadas a servirem-nos de ombreira constante e a ameaçarem cair sobre nós no escuro.
Mais uma vez se confirma que os Thais são um povo muito simpático e embora seja difícil fazermo-nos compreender a mímica ajuda sempre.
Uma particularidade interessante são os barcos, em madeira com um motor de dois tempos, com um enorme tubo basculante acoplado, na ponta do qual está a hélice.
O facto de estar sempre a chover teve uma vantagem. Deu-me tempo para parar e aqui neste alpendre palafita estar a pôr o meu diário de viagem em dia. É impressionante o que chove. Sem telemóvel está-se aqui literalmente incontactável.
Aproveitei para conversar com o meu guia, Leck de 28 anos. Para local deveria ser bem sucedido, tinha duas mulheres e o mais estranho foi ele perguntar porque é que eu não tinha pelo menos uma mulher, uma vez que deveria ser mais rico que ele.
Apercebi-me entretanto que a minha viagem entrou em contagem decrescente das 3 semanas em que nos começamos a aperceber do tempo que já não temos disponível para ver e fazer tudo o que ainda queremos. Amanhã é um dia de caminhada na selva e ao fim do dia tentar chegar a Surat Thani a tempo para me encontrar com eles e apanhar o “night train” para Norte, direcção Chiang Mai, com uma paragem em Bangkok para troca de comboios.
A vantagem desta nossa viagem é não ter tabelas para nada, tudo é decidido na hora, de acordo com as ligações possíveis, e é preciso um certo estômago para o que vamos encontrando e principalmente boa disposição e tentar tirar o melhor partido do que não corre exactamente como queremos. Quando há divergências, amigo não empata amigo, é apenas necessário saber como marcar depois um ponto de encontro, espero que tudo corra bem sem desencontros.
Podíamos ter tido mais sorte com o tempo e com as actividades. Por outro lado uma tarde relaxante também tem as suas vantagens. Fui engrupido!!! Faz parte não desanimar!! Devia ter ido com eles!!!


Dia 11

Regra n1: A selva não é sítio para quem não gosta de acordar cedo: 5 da manha
-Pequeno almoço.
-Saltámos para o barco e seguimos para um local em que após uma incursão pela selva iríamos escalar um monte, do cimo do qual se conseguiria ter uma vista fantástica

Regra n2: Se têm nojo de sanguessugas não se preocupem com elas.
Façam o que fizerem, quer se preocupem quer não, elas farão um banquete com as nossas pernas e pés. Por isso mais vale não pensar nisso e tentar aproveitar a caminhada. Eu ainda usei as minhas botas que vão bem acima do tornozelo, bem apertadas e mesmo assim, não sei como, conseguiram entrar. Não dei por nada, nem mesmo depois de ter sido vampirizado.

Regra n3: Quando se apoiarem numa arvore olhem onde põem a mão.
Esmaguei um insecto enorme, não sei se era dos más ou não, mas o mal foi dele. Ia fazendo o mesmo a uma daquelas centopeias enormes. Já agora ao apoiarem-se vejam se a árvore é sólida, não vá ao abanar caírem mais coisas do que apenas água, embora não tenha sido em cima de mim.

Regra n4: Levar roupa velha.
Tudo o que tinha vestido hoje já esta no lixo.

Regra n5: A noção de tempo para eles é perfeitamente aleatória
Quando se pergunta quanto falta para chegar a qualquer sitio, a resposta, em inglês macarrónico "Close, close, tenti minut" não quer dizer nada porque após uma hora, se perguntarmos "How close" a resposta é "Same, same, tenti minut" perante o que se desiste de perguntar.

No fim escalámos uma encosta enorme. Valeu a pena pela paisagem, a vista sobre a selva e o lago era lindíssima. Tirei uma série de fotos que espero que saiam bem.
Foi aí em cima que me apercebi da colónia de sanguessugas que tinha dentro das botas. As minhas meias estavam todas vermelhas do sangue. Quando mordem, injectam um anticoagulante, em que se fica a sangrar durante algum tempo, embora sem qualquer risco. Só assusta quando se vê o sangue todo e não se sabe ainda o que se passou e que eram apenas sanguessugas.

Após percorrer o caminho inverso voltamos ao barco onde fomos até uma cascata que descia ao longo da selva por entre árvores durante cerca de 300 metros.

Na volta, já de barco, parámos numa pequena aldeia flutuante, onde é possível perceber a forma de vida simples das pessoas que ali vivem.

Após essa paragem destinámos para a entrada do parque, onde tive que assinar uma segunda vez para saberem que eu já tinha saído. Uma particularidade deste parque é ter a maior flor do mundo. Na realidade é um fungo que dá uma flor gigante

Quando saímos da reserva, o transporte acordado só passaria uma hora mais tarde, o que implicava perder a última camioneta para Surat Thani. Falei com o meu guia e ele conseguiu improvisar boleia na traseira de uma “pickup”. E seguimos para o “Freedom Resort” no outro lado da selva a uma hora de distância. Estes gajos são doidos a conduzir. Achei mesmo que foi uma estupidez não ter feito seguro de saúde, mas "passa nada".
-Chegar ao “Freedom Resort”
-Fechar malas a correr
-E pagar enquanto o meu guia foi arranjar forma de me levar dali até à paragem de camioneta. Apareceu numa motorizada pequenina... a minha figura de mochilona às costas montado naquela motoreta, atrás do meu guia, deve ter sido no mínimo hilariante!!
Conseguimos chegar ao local da paragem da camioneta a tempo de eu ainda a conseguir apanhar. Após a correria para chegar a tempo, estava com uma sede de várias horas! Havia uma barraquinha de estrada, a uns 100 metros numa rua perpendicular àquela em que iria passar o autocarro. O dilema era ir lá comprar a água e arriscar-me a perder a camioneta, se ela passasse nesse momento. Após meia hora de espera, com uma sede cada vez maior, e pensando que ia ter pela frente uma viagem de 3h de Bus resolvi arriscar e ir comprar uma água nessa barraca à beira da estrada. Inevitavelmente é sempre nessas alturas que o autocarro passa!!! Já o autocarro ia a partir, quando dei por ele, e tive que dar um berro de longe. Acho mesmo que nunca antes terei berrado tão alto na minha vida. Por sorte todas as pessoas que estavam junto do autocarro ouviram o meu berro e desataram a correr, a gritar e a abanar os braços para o autocarro e graças a eles e com uma correria esbaforida com as mochilas em cima lá consegui apanhá-lo.
Os autocarros locais nas zonas rurais servem também para transporte dos produtos dos lavradores a caminho do mercado ou de vendas de rua, na cidade. Os revisores têm aqui o papel de "monta cargas".

A maioria dos ocidentais adoptam aqui uma postura de superioridade, perante um povo supostamente inferior que tem como único objectivo extorquir dinheiro.
É surpreendente a simpatia do povo Tailandês se formos igualmente simpáticos. Aliás, um simples gesto de simpatia, que no mundo ocidental passaria despercebido ou ignorado, é aqui muito mais facilmente reconhecido, e mais do que isso, retribuído. Passou-se comigo, nesta viagem, um episódio que ilustra bem isso:
Numa das paragens desta viagem de autocarro estava uma velhota com umas dez sacas enormes, de diferentes frutas e verduras. O revisor, um pouco franzino, ia descer para as carregar quando eu me ofereci para o fazer. Só por este simples facto, por ter dado essa ajuda, várias pessoas (passageiros tailandeses) vieram agradecer-me com uma palmadinha no ombro, e o revisor de 16 ou 17 anos, cujo nome se pronunciava algo como Chaler, veio sentar-se ao meu lado oferecendo-me um cigarro. Quis saber de onde eu era, o que fazia, idade e preço das coisas em "Potugué". Potugué, como eles dizem, é um pais bem conhecido dos tailandeses. Todos aprendem na escola que fomos os primeiros ocidentais a chegar à Tailândia.
A viagem decorreu de portas abertas, não sei se por estarem estragadas se para improvisar um ar condicionados. A viagem decorria a uma velocidade enorme, considerando o chaço que era e a estrada estreita. A ventania que entrava pela porta aberta fez voar o meu maço de tabaco para trás, que me foi devolvido por três rapazes que estavam sentados atrás de mim. Pelo gesto ofereci-lhes o maço para eles tirarem um cigarro. Dois deles fizeram-no e o outro mostrou envergonhadamente que já o tinha feito antes de me devolver o maço. Todos mostraram um reconhecimento pouco habitual para com os arrogantes ocidentais, ao se oferecerem todos ali à volta para me ajudarem a descarregar as mochilas.
Na chegada a Surat Thani os meus companheiros de viagem não apareceram. Tinham perdido as ligações. A cena que se passou na estação, que era o ponto de encontro combinado, foi caricata: para evitar desencontros acordámos eles porem-se à janela do comboio enquanto este chegava e eu, ao avistá-los, iria a correr comprar bilhete para nós os três e embarcar no comboio deles. Nem eu embarcava sem os ver a eles no comboio nem eles seguiam viagem sem me verem na estação. Como tal teria eu que comprar bilhete para os três para a continuação da viagem.
Para complicar estava uma tal enchente na estação que era impossível eu ser avistado por eles, e para complicar, o número de cabeças que vinham à janela do comboio eram tantas que não seria fácil eu avistá-los.
A forma que eu arranjei para garantir que era visto, foi subir de imediato para as costas de um dos bancos de espera na plataforma e aí em pé, bem acima de todos os passageiros, tentei ver as cabeças deles, mas nada, não consegui encontrá-los nem ter confirmação que me viam a fazer aquela "figura de pedestal".
Não apareceram e a cena repetiu-se no comboio seguinte e último do dia.
Devem ter perdido a ligação. Comprei um cartão de telefone e lá consegui falar com eles. Confirmava-se!!! Ia ficar um dia à espera deles em Surat Thani. É da forma que tenho tempo de ir visitar o mosteiro Budista que no início da viagem me tinham falado, Suan Mokkh.

Dirigi-me para a agência de turismo onde já tinha estado, para marcar o hotel dessa noite e o comboio para o dia seguinte. Surpresa foi dizerem-me que pouparia tempo e dinheiro de fosse directamente à estação e comprasse lá o bilhete. Fiquei a perceber que a mentalidade deles é mais íntegra do que julgava. Eles vendem-nos a informação que eles têm, mas não quer dizer que tenham que nos extorquir dinheiro. Nós é que adoptamos a posição de alvo óptimo e chorudo sem nos preocuparmos em olhar para lá das aparências iniciais.

A viagem de autocarro para aqui levou 3 horas, para supostamente me vir encontrar com eles à hora e local combinado. Mas fiquei pendurado. Amanhã se eles chegarem a tempo vamos ter cerca de 36 horas de comboio para Norte. Hoje já fiz o “check in” num hotel decente, com uma cama decente, refrigeração decente e uma casa de banho decente, coisa que já não tinha há muito.
E agora depois de ter comido estou aqui a matar tempo e pôr a correspondência em dia com todos.

Dia 12
-Acordar numa cama decente e num quarto decente pela primeira vez em algum tempo. Que luxo!!!
-Banho (o único das próximas 48 horas)
-Fazer mala.
-"Check out" do hotel
-Pequeno almoço Inglês à agência turística
-Apanhar Bus para Suan Mokkh. Os meus amigos só chegariam de comboio ao final do dia.

Suan Mokkh é o mosteiro que me tinha sido indicado pelo monge de Nakom Pathom. Em Suan Mokkh são organizados retiros de meditação de 10 dias, a começar todos os dias 1 de cada mês. É necessário chegar de véspera. Estes retiros estão orientados para ocidentais que pretendam aprender sobre Budismo e meditação. Os monges ou são de origem ocidental ou falam Inglês. São retiros rigorosos em que todos os pertences pessoais são guardados à entrada e só podem ser levantados à saída. São 10 dias de aulas e meditação intensivos com início às 5 da manhã.

Eu não pretendia fazer o retiro, até porque já estava a decorrer há 5 dias. Mas queria visitar o mosteiro.
Quando lá cheguei fui recebido muito simpaticamente por um monge que estava numa recepção por baixo de um telheiro.
Convidou-me para comer com ele tirando uns saquinhos de plástico com comida com caril tendo-os despejado em dois pratos.
Numa conversa simples e despretensiosa, andando pelos enormes jardins do templo deu-me uma lição sobre o Budismo Tailandês, tendo-me recomendado vários livros que adquiri na biblioteca deles.
À saída despedimo-nos, apresentando-nos finalmente e foi quando percebi que aquele monge estava numa hierarquia elevada e no entanto não poderia ter sido mais simpático, acessível e humilde. Talvez os nossos religiosos pudessem aprender com estes Budistas.
-Despedida
-Bus de volta a Surat Thani (estação)
-Esperar pela vinda deles.
-A cena da estação repetiu-se mas desta vez com o tão esperado encontro. Assim que os avistei fui a correr comprar os bilhetes (2ª classe com cama) enquanto eles esperavam junto ao comboio. O picas viu a minha correria pelo que o comboio não arrancava enquanto não entrássemos.
-Bye Surat Thani!! Here we go Bangkok (embora para já só de passagem a caminho de Xiang Mai)!!
-Deitar na cama e Dormir. Os vagões cama são relativamente confortáveis e uma boa opção para poupar uma noite de hotel.

Dia 13 - 24h Train to Chiang Mai

Dia 13

Acordar quase a chegar a Bangkok. A viagem foi óptima, sempre a dormir, nos vagões cama de segunda classe.
-Desembarcar em Bangkok
-Comprar Bilhetes
Fazer horas na estação e comer qualquer coisa. A estação de Bangkok fervilhava de vida, tinham chegado mais comboios para além do nosso. Centenas de pessoas passavam em todas as direcções: passageiros a correr para apanhar o comboio que partia, carregadores atarefados a passarem frenéticos, etc...
Um elemento que vale a pena referir é o Expresso do Oriente que estava parado na estação. Um comboio que é verdadeiramente um luxo asiático. Espreitámos para dentro da carruagem e o contraste com o que tínhamos acabado de experienciar era abissal!! Ficámos com vontade de um dia experimentar fazer uma viagem naquele comboio!!
-Apanhar comboio direcção Norte.
-Destino final Chiang Mai.


Decidimos fazer duas paragens a meio e aproveitar para conhecer as cidades de Lop Buri e Phitsanulok. Seriam paragens de uma a duas horas apanhando o comboio seguinte para norte.
Ao longo de toda a viagem de comboio, uma constante foram as graves inundações, visíveis ao longo de todo o caminho, alagando aldeias e submergindo por completo algumas casas.

Durante mais de cem quilómetros seguidos, a plataforma do comboio e as copas das árvores eram as únicas coisas visíveis fora de água. Viam-se muitas casas quase totalmente submersas em que apenas a ponta do telhado saía fora de água.


Primeira paragem Lop Buri, originalmente conhecida como “Lawo”, foi uma das mais importantes cidades do Sec. X ao Sec. XIII.
Pequenos templos miniatura nos jardins são um pormenor interessante nesta cidade

Esta cidade é famosa pelos templos de influência Khmer, dos quais o famoso templo Phra Prang Sam Yod, é o mais conhecido. Do Sec XIII de origem Hindu e influência Khmer.
As três torres do templo representam a santíssima trindade Hindu: Brahma, Vishnu e Shiva. Posteriormente foi convertido em templo Budista.

Quer este templo quer a área da cidade à volta dele estão povoados de dezenas de macacos que passeiam pela cidade como se esta lhes pertencesse sem ligarem nenhuma às pessoas que passam.
-Passear pela cidade
-Voltar à estação
-Levantar bagagens
-Comprar Bilhetes para Phitsanulok (próxima paragem)
-Embarcar

Entretanto a sensação de desespero, por mais de 24 horas sem banho, começou a ser dramática de tal forma que até a água das inundações visíveis ao longo do percurso começava a ser apelativa!!
Não havia muito para fazer para além de ler, dormitar, tirar fotografias às paisagens e aos passageiros do comboio. A ponto de a certa altura começarmos a inventar: Para tirar esta fotografia, por exemplo, tive que me pendurar fora do comboio em andamento.
Quase ao anoitecer chegámos a Phitsanulok,
Após negociar o preço saltámos para a traseira de uma “Pickup”, para fazer uma volta rápida pela cidade e levar-nos ao templo onde se encontra uma das mais belas e mais conhecidas estátuas de Buda: Phra Buddha Chinnarat, uma imagem folheada a ouro existente no Wat Phra Si Rattana Mahathat. Pelas informações esta cidade merecia mais tempo de visita, principalmente pelas paisagens envolventes fora da cidade.
Depois de “picado o ponto” turístico decidimos que não conseguíamos aguentar mais um minuto sem banho e decidimos ir à procura de um hotel, só para tomar banho, antes de retomar a viagem de comboio.
Essa foi uma tarefa difícil. A probabilidade de alugar um quarto por pouco tempo sem meninas incluídas no preço é uma tarefa quase impossível. Escusado será dizer que até o conseguirmos tivemos que passar por três hotéis em que nos levavam primeiro a uma sala em que elas estão expostas atrás de aquários numeradas para a escolha ser mais fácil.
Finalmente conseguimos um quarto sem “extras”
-Um fantástico banho
-Roupa lavada
-E com a recém adquirida sensação de civilização decidimos ir jantar a um restaurante a sério, “finesse”, e com AC. Foi caríssimo, 4 Euros!! E incrível como a comida cá e barata!!!
-De volta à estação (já só havia bilhetes para terceira classe).
-Atraso do comboio que nos deu oportunidade de apreciar a vida nocturna de uma estação de comboios tailandesa!!
Não recomendo mesmo nada uma viagem noite dentro em terceira classe. Não existe qualquer hipótese de encontrar uma posição para dormir naqueles bancos. É literalmente impossível. Para agravar a situação recebemos uma chamada de Portugal dum familiar do Nuno C. a dizer que havia um tufão no norte da Tailândia para não irmos para lá.
Surpresa!!! Estávamos precisamente a chegar ao extremo norte da Tailândia!!!!
Telefonámos a um amigo em Portugal que ligou para o Instituto Meteorologia e que conseguiu saber que o tufão afinal tinha-se dissipado sobre o Nepal. Iríamos só apanhar com umas monções muito fortes... nada de mais!!!
E após essa peripécia lá passamos o resto da viagem a tentar ingloriamente encontrar posição que nos permitisse dormitar nem que fosse meia hora até acordar com o desconforto da posição e tentar dormitar mais meia hora!!! Terceira classe "overnight" é para esquecer!!

Dias 14, 15, 16 - Chiang Mai, Pai e Mae-Hong-Song

Dia 14 - Chegada a Chiang Mai e Pai

Chegámos a Chiang Mai eram 6:00 da manhã, saímos do comboio e o fomos directos a um Hotel para decidir se íamos ficar ali ou se seguíamos caminho para Pai.

Pai, de acordo com as informações que tínhamos, era uma pequena aldeia mais a Norte que é um dos pontos de encontro de muitos Backpackers. Após alguma deliberação decidimos por Pai.
Mas antes, o Nuno F. como era seu hábito, agarrou no seu guia e preparava-se para bater a pé todos os Wats de Chiang Mai e outros pontos turísticos.
Eu que já estava farto dos milhares de Wats que já tinha visto recusei-me a seguí-lo. Ainda pensei alugar um riquexó e dizer " Fallow that man" mas achei que era demais. Peguei na minha máquina e fui fotografar alguns aspectos de Chiang Mai sem ter que andar muito. O Nuno C. acompanhou-me.
O centro histórico de Chiang Mai é uma zona agradável com casas pequenas, algumas de tipo colonial. Esta cidade nada tem a haver com Bangkok!

Após o regresso do Nuno F. da sua volta dos Wats, seguimos para a central de camionagem para apanhar a camioneta para Pai.
Os autocarros estavam todos estacionadas ao lado uns dos outros, quase todos tipo autopulman com um óptimo aspecto, à excepção de um, uma carripana velha e já apinhada de gente. Para cúmulo dos azares era esse o nosso. Não podíamos acreditar!!! As mochilas foram atiradas para cima do autocarro e nós tivemos que aguentar 4 horas e meia de viagem, em pé, entalado num autocarro velho, sobrelotado de locais e backpackers, entre sacas de cereais e vegetais, com uma única paragem para esticar as pernas ao fim de três horas e meia de viagem num povoado constituído por três cafés.
As quatro horas e meia de viagem fazem-se numa estrada razoável em plena selva. De tempos a tempos, junto à estrada abrem-se clareiras em que se vêem campos de arroz a serem trabalhados para logo a seguir darem lugar à selva outra vez.
Esta viagem e o desconforto a ela associado foi claramente o ponto baixo de toda a minha estadia na Tailândia.

Chegados a Pai verificámos que é um lugar encontro dos backpackers. Um ponto de descanso, em que as atracções são o ambiente e os passeios de Elefante que se podem fazer. O número de elefantes por metro quadrado é tal que num passeio a pé à volta de Pai é mais fácil encontrar elefantes do que cães ou gatos.
-Procurar Hotel (o meu era barato mas demasiado rústico)
-Almoçar tarde
-Marcar, para o dia seguinte, um passeio até Mae-Hong-Song e visitar os campos de refugiados Birmaneses conhecidos por "Long Neck People" e "Long Ear People".
-Ficar por barzinhos, a para relaxar da jornada que se tinha iniciado 48h antes.
-Jantar
-Banho e dormir cedo (A casa de Banho não tinha tecto e o duche era de mangueira!!! Garantidamente que amanhã mudo de sítio)


Dia 15 - Passeio a Mae-Hong-Song
-Acordar
-Mudar de Hotel (ou melhor dizendo de pensão ou quarto)
-Pequeno almoço (panquecas óptimas)
-Saltar para dentro da carripana e iniciar viagem.
Era uma carripana de caixa aberta coberta com um toldo e com uns bancos corridos desconfortáveis. O condutor ia cortando a estrada como se esta tivesse um só sentido. A estrada muito sinuosa ia-nos guiando por bonitas paisagens de selva, alternadas com algumas clareiras esporádicas onde era cultivado arroz.
Parávamos em pequenos povoados para visitar os mercados locais, para comer e vêr algum artesanato que valesse a pena comprar.

Primeira paragem: aldeias de refugiados dos Long Neck and Long Ear People.
Estas aldeias são um pouco para turista ver. Apesar disso a taxa que se paga para as visitar e o artesanato que lá se compra é uma forma de estes refugiados terem alguma fonte de subsistência e de o Governo Tailandês gastar menos com eles.
Ao visitar a aldeia é notório as condições precárias em que eles vivem.
As “Long Neck Women” fazem impressão. O comprimento dos pescoços vai aumentando com a quantidade de argolas que elas vão colocando ao longo do tempo. No entanto, e de acordo com a informação que nos deram, se elas retirarem essas argolas do pescoço, este volta gradualmente ao normal.
Esta tradição é uma questão estética... esses Birmaneses!!! Não sei como é que podem achar que a mulher fica mais bonita assim!! Sim porque os homens não vão nessa de usar argolas.
Calculo que eles devam achar o mesmo absurdo relativamente aos saltos altos da mulher ocidental!!Paragem seguinte, Mae-Hong-Song, junto à fronteira com a Birmânia, no extremo noroeste da Tailândia. Este é um dos locais mais quentes no tráfico de ópio. É necessário ter muito cuidado e evitar confusões.

Aproveitámos para almoçar num restaurante relaxado ao pé do lago central da cidade.

Mae-Hong-Song foi um dos locais usados para filmar o filme "Air América". A cidade estende-se por uma área enorme, com casas térreas e ruas viçosas de árvores e vegetação. Também aqui a arquitectura tem muito de colonial. Vale a pena subir ao Wat no topo do monte que domina toda a cidade.

Ao descer desse monte demos boleia a um local que se não estava completamente "opiado" imitava bem.

Paragem seguinte, já no caminho de volta, uma cascata com um caudal e alturas razoáveis.

-Voltar para Pai já no final do dia
-Marcar passeio de elefante para o dia seguinte
-Jantar
-Ida a um bar fumar uma Narguilada
-E dormir, agora sim num quarto decente!!


Dia 16 - Passeio de Elefante e Meditação

-Acordar
-Pequeno Almoço
-Ir ter com a mulher com quem combinámos o passeio de elefante. Levou-nos de carro aos arredores de Pai onde tinha o elefante.
Assim que lá chegámos, esqueceu-se de nós assim que viu a sua pequena elefante "Joy". Saltou para ela e começou a brincar com ela com uma alegria que espelhava também a alegria da pequena elefante ao vê-la.

Depois desse momento lá se lembrou de nós e fomos montar a mãe elefante. Esta com 22 anos e uma bisarma de músculo. Estupidamente escolhemos montar "em pelo" em vez de usar os confortáveis palanques. Foi uma experiência única e se depender de mim vai continuar única para sempre. Ao fim de um certo tempo o desconforto e as dores no rabo são enormes.
Contentes com o fim do passeio fomos convidados por Jitty para tomar banho numa piscina com água quente sulfurosa de nascentes vulcânicas, no terreno dela. Excepcional!!
Ficámos a conversar com ela sobre os elefantes e como é que ela os tinha comprado. Foi sozinha à Birmânia, para a selva, comprar a elefante a lenhadores Birmaneses. Lá teve que contratar dois soldados devido ao perigo que aquela zona tem. Era um sonho de criança e quando estava prestes a desistir de tudo resolveu ir atrás desse sonho de miúda.

-Voltámos a Pai;

Hoje os Nunos partiram para Sul e eu decidi ficar por cá mais um ou dois dias para fotografar os arredores de Pai e para aprender meditação com a Jitty. Estava farto de correrias. Em principio parto amanha e encontro-me com eles em Bangkok e vou de avião, são só 50€, embora ainda tenha 4 horas de autocarro até chegar a Chiang Mai.

Uma curiosidade: Nesta aldeia é possível tirar cursos de massagens aos pés e tailandesa.

-Os Nunos decidiram voltar para Bangkok da mesma forma que tínhamos vindo. Para mim chegava de viagens em comboio e autocarro mal instalado. Decidi ficar mais um dia e voltar para Bangkok de avião. Estou farto de correrias e o custo é de apenas 50€ e uma hora de viagem!! Vale claramente a pena!!!

-Agarrar na máquina fotográfica e sair a passear pelos arredores de Pai a fotografar a vida rural. As plantações de chá são enormes e em todas as fazendas se vêem elefantes.
Ver elefantes na estrada é algo comum aqui nesta zona.

No fim dessa minha volta passei outra vez pela fazenda da Jitty, entrei e ficámos mais algum tempo a conversar, sobre filosofia, Budismo e Meditação que ela disse que me ia ensinar.

Percebi que Jitty era uma daquelas pessoas que se encontra muito raramente. A vida dela dava para fazer um filme. Um décimo daquilo porque ela passou faz os nossos problemas parecerem uma coisa insignificante! Eu fiquei mesmo a achar que eu não tenho problemas. Sérios pelo menos!!
Foi vendida pela própria família entre outras coisas bem piores por que passou, já perdeu tudo 3 vezes e teve que recomeçar do zero. Uma no Laos em que fez frente a máfia de lá que queriam ficar com o restaurante dela, e duas na Tailândia. E no entanto consegue ter uma filosofia de vida e uma alegria impressionantes, e apesar das dificuldades consegue reunir uma série de pessoas para ajudar órfãos.
No fim do dia ensinou-me a fazer meditação. Nem sempre se consegue à primeira mas tive sorte de principiante.

Amanhã sigo finalmente para a última paragem Bangkok!!!